Natural do interior de São Paulo, Savio revela que apesar das inúmeras possibilidades, o mercado de trabalho não se resume apenas aos grandes centros do país
Quais os principais desafios de se trabalhar com Direito Eleitoral em um país como o Brasil? Na maioria das faculdades, a disciplina é opcional. Mesmo assim, escolher este caminho profissional pode ser uma boa opção.
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostraram um crescimento significativo no número de processos em anos não eleitorais em menos de uma década. Em 2007, foram 4.367 decisões, enquanto em 2013, esse número era de 10.890.
Existem algumas vertentes que podem ser seguidas na área, como a carreira de advogado, juiz, assessor eleitoral e professor.
Savio Chalita se enquadra em duas delas. Além de advogar, ele ministra as aulas da disciplina no Centro Preparatório Jurídico (CPJUR). Conversamos com ele para entender como é atuar com o Direito Eleitoral.
Ficou mais difícil lecionar Direito Eleitoral?
Savio é direto ao apontar um diferencial da área, e cita um exemplo: “você consegue pensar que talvez uma reforma política dá jeito, essa pesquisa na área, fomentada pela crise política e democrática que vivemos, é uma inspiração para estudar”, diz.
No entanto, o momento delicado e conturbado enfrentado pelo país tornou a educação da disciplina ainda mais importante. Se antes, poucos se interessavam por política, hoje, é plenamente comum ouvir o tema ser debatido em rodinha de amigos.
Questionado se ficou mais difícil trabalhar com a matéria, Chalita nega.
“Não, mas ficou com um sabor diferente. O que poderia a ser um recall eleitoral? O que significa um processo de impeachment? Ou o que é um crime de responsabilidade? Antes, as pessoas estranhavam esses termos. Hoje, experimentamos na prática algumas dessas coisas”, explica.
Para ele, a evolução da tecnologia e a velocidade da comunicação são duas das responsáveis por isso. Em contrapartida, as notícias que alimentam os usuários na internet também são capazes de dificultar o aprendizado.
“As pessoas formam opinião sobre muitas coisas e nem todas correspondem com a realidade. Então, às vezes fica delicado trabalhar com alguns assuntos, porque você é taxado de um lado ou de outro. […] Pois trata de assuntos que o Brasil está experimentando, na prática, de um jeito amargo”, conta.
Mas, afinal, o que é o Direito Eleitoral?
“O Direito Eleitoral não necessariamente caminha com a política. Ele trabalha o aspecto político de exercício de direitos políticos”, define Savio Chalita.
Trata-se de um conjunto de normas e regras responsáveis pelo funcionamento correto dos processos eleitorais.
Desde combater abusos, fraudes ou infrações que se enquadrem em crimes eleitorais até realizar o registro das candidaturas. Tudo faz parte do universo jurídico eleitoral.
Um profissional que atuar na área tem papel fundamental na garantia da legitimidade das eleições e o bom funcionamento da democracia. Seja no combate pela Lei da Ficha Limpa, como prestando assessoria aos partidos e candidatos.
É preciso mudar para uma cidade grande?
Savio começou a faculdade em Lorena, interior de São Paulo. Logo no segundo ano, mudou-se para a capital para buscar novas experiências profissionais.
Devido a mudança, teve de fazer 16 adaptações – disciplinas obrigatórias que precisam ser cursadas por alunos transferidos de outra instituição. E foi exatamente isso que despertou a vontade de dar aulas.
“Eu tive que desenvolver uma maneira de dar conta de todas disciplinas pois não queria perder o ano. Então eu me aprofundei com leitura dinâmica, como me concentrar e ler mais rápido, fazer resumos, mapas mentais e tudo aquilo que pudesse otimizar o tempo de estudo”, explica.
Na capital, enfrentou diversos desafios, mas cresceu profissionalmente. No entanto, é enfático ao afirmar que trata-se de um “pensamento retrógrado” achar que é necessário mudar-se para um grande centro, como São Paulo, para alcançar o sucesso.
“Nós vemos hoje, em todo o país, que existem bancas de advocacia no interior maravilhosas, com ótimas estruturas e que fazem um belo trabalho de defesa das prerrogativas, de se entender enquanto indispensável administração da justiça”, conta.
Ele também chama a atenção para os focos que cada disciplina recebe em determinadas regiões.
“Em São Paulo é onde tudo acontece. Não só pensando no Estado ou País, mas aqui temos grandes acontecimentos. Mas, para a área do Direito, você tem, de uma maneira bem decepada no Brasil, focos específicos. O Direito Eleitoral, por exemplo, tem um foco importantíssimo no Paraná”, revela.
O Direito desde cedo
A relação de Savio Chalita com o Direito começou muito antes do que se imagina. Ainda criança, com 11 anos, seus pais resolveram fazer faculdade juntos. Como ele e seus irmãos não tinham com quem ficar, era preciso acompanhá-los nas aulas.
“Eu tenho dez anos de Direito: cinco acompanhando eles e cinco depois, quando de fato entrei na faculdade”, brinca. “Eu fui conquistado pelo Direito e não o contrário”, enfatiza Chalita.
Ele revela que o irmão, o caçula, chegou a decorar o Art. 5º da Constituição Federal, inclusive todos os incisos. “Eu mesmo que dou aula de Constitucional não decorei”, recorda.
A convivência com os professores, na época, rendem boas lembranças a Savio até hoje. Profissionais que viram, literalmente, o menino crescer. Tornaram-se, posteriormente, seus mentores e, hoje, colegas de profissão.
“Quando eu cheguei eles brincavam que eu estava começando o sexto ano de Direito”, conta.
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